Faz amanha 8 meses que aqui chegamos... Foram duas horas e meia de voo que nunca irei esquecer, chorei compulsivamente desde que me despedi no aeroporto ate literalmente a manha do dia seguinte. Não sabia ao que vinha, o que ia encontrar, como eram as pessoas e nem sequer pontos de referencia da cidade eu tinha. Deixava para trás tudo o que tinha construído nos últimos 5 anos em busca do incerto.
Foram de longe os 8 meses mais difíceis por que passei, pondo a prova todas as minhas capacidades... Nunca pensei que lidar com a saudade, com o vazio, a falta de planos futuros, com a rejeição fosse tão difícil... A saudade da família e amigos que ficaram para trás, o vazio no coração, a falta de planos futuros de reconstruir a vida anterior, a rejeição por não conseguir um emprego.
Recordo que nos primeiros 3 meses enviava cerca de 50 candidaturas a emprego diárias, e automaticamente recebia cerca de 50 rejeicoes as mesmas... Nunca tinha sequer enviado um CV na vida, quanto mais saber lidar com e mail do tipo "infelizmente desta vez não foste seleccionada". Sabia que Inglaterra não era uma terra de oportunidades, mas confesso que fiquei varias vezes desapontada com a minha estrelinha da sorte.
Senti me perdida tantas e tantas vezes, sozinha, deprimida, a pior pessoa... uma sensação que só quem passa pode claramente perceber. Precisei ir a Portugal algumas vezes, ver a família, os amigos, clarear ideias, relembrar o porque de ter vindo embora primeiramente... (In)felizmente o estado do nosso cantinho a beira mar plantado sempre me ajudou a perceber o porque de lhe ter virado as costas e encheu o meu coração de forca para voltar a acreditar no meu valor como pessoa, como mulher e como profissional.
Hoje, e estando a trabalhar na minha área na Universidade local sinto me uma pessoa diferente, segura, confiante do meu valor e com expectativa no futuro, um futuro que passa por um pais diferente do meu, com uma cultura mais fria e distante mas que me recebeu com incentivo e valorização. Um pais onde tive de me habituar ao frio e a língua, a comida e hábitos, a organização e respeito...
Como dizia Fernando Pessoa "Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história…".
